Desde
muito tempo que o lugar de viver (morar e alimentar-se) e o lugar de
trabalhar são diferentes, e frequentemente distantes um do outro.
Isso afetou grandemente o modo de as pessoas se alimentarem, pois
precisavam fazê-lo de forma rápida e econômica. Além disso, para
suprir as necessidades do trabalho, tinha que ser uma refeição que
fornecesse energia, e muitas vezes isso significava por vezes muitos
carboidratos e muitas gorduras. Produtos que, a longo prazo, geram
obesidade e doenças cardíacas. Para completar o 'cardápio', o
refrigerante, carregado de açúcar, e uma das causas da diabete.
Um retrato deste tipo de alimentação são as redes de fast food, com
suas preparações econômicas (nos EUA é mais barato comer no Mac que
em restaurantes no formato tradicional) e com muitas calorias. Com o
passar do tempo também estas redes buscaram, por exemplo, reduzir as
porções de refrigerantes para ajustar-se - ou ao menos não ser tão
deletérios -aos programas de saúde pública.
Da consciência dos malefícios deste tipo de ingesta alimentar que
surgiu um movimento que envolvem aspectos sociais, culturais e
econômicos, mais do que ao 'comer devagar' que o nome slow food
preconiza. Nascido da iniciativa de Carlo Petrini, na Itália,
defendendo a produção local, a preferência pelos ingredientes
locais, e a valorização da cultura gastronômica inerente aos
habitantes daquela região. Isso reporta à valorização de uma memória
gustativa, de parte dos consumidores, a que a massificação dos
hamburgers é francamente opositora, pois deseja que o mesmo sabor -
ou com leves variações - agrade ao mesmo tempo chineses, alemães,
canadenses e argentinos. Isso só é possível se as preferências
originais destas pessoas forem 'esquecidas', suprimidas, o que é
culturalmente uma perda. Socialmente, nem se fala...
Sob este aspecto, a cozinha do tipo fast food é um tanto deletéria
da cultura gastronômica, colocando-se em campo oposto ao da cozinha
tradicional. Nesta, receitas e cultura interagem. E o gosto do
consumidor é respeitado, verificando-se uma contraprestação à
expectativa em relação ao alimento solicitado, sua forma de preparo
e aos ingredientes utilizados. Comer também é uma experiência, em
que fatores sociais, intelectuais e mesmo emocionais estão
presentes. Cozinhar pode ser considerado uma arte que muitas vezes
não combina com a forma industrial e massiva de ver o processo,
verificada nas redes de fast food.
Da mesma forma, o intuito de alimentar-se é ter saúde, e as
preparações de fast food são sabidamente prejudiciais. A produção
distante, e os períodos mais ou menos longos e conservação exigem
que conservantes, saborizantes, corantes e outros químicos sejam
acrescentados, o que certamente não faz bem.
Felizmente, no Brasil, nas últimas duas décadas se popularizaram os
restaurantes 'a quilo', permitindo uma alternativa de custo
razoável, com variedade e padrão sanitário adequados. Em geral, nos
países desenvolvidos os restaurantes tem preços mais elevados, em
relação ao fast food, o que conduz parte da população à alimentação
que é mais prejudicial à saúde, mas que gera energia, e cabe no
bolso. O efeito só vem a longo prazo, e portanto não é considerado
na decisão de onde, e principalmente o quê, consumir na hora da
refeição...
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